Quem diria que o faroeste, com seus duelos ao pôr do sol, xerifes de olhar desconfiado e foras da lei de gatilho fácil, estaria vivendo uma nova era dourada nos quadrinhos brasileiros? Pois é exatamente isso que vem acontecendo. De forma silenciosa, mas constante, os quadrinhos de faroeste estão conquistando um público fiel por aqui, formado tanto por leitores veteranos quanto por uma nova geração curiosa por histórias de justiça, aventura e paisagens áridas.
Um gênero antigo com fôlego novo
O faroeste, que já foi um dos gêneros mais populares do cinema e da literatura no século passado, passou por altos e baixos ao longo dos anos. Nos quadrinhos, nomes como Tex Willer marcaram gerações, mas por muito tempo o gênero foi considerado “coisa do passado”. No entanto, nos últimos anos, uma onda de lançamentos, reedições e projetos independentes reacendeu o interesse do público por esse tipo de narrativa.
Editoras brasileiras vêm apostando em títulos clássicos e também em novas produções autorais. A editora Mythos, por exemplo, continua sendo referência quando se fala em faroeste, especialmente por manter viva a publicação de Tex, o lendário ranger criado por Gianluigi Bonelli e Aurelio Galleppini em 1948. Mas além dos nomes tradicionais, também surgem novidades que misturam o western com elementos de fantasia, ficção científica e crítica social.
Produção nacional entra na roda
Um dos fatores mais interessantes desse ressurgimento do faroeste nos quadrinhos é o crescimento da produção nacional. Autores e ilustradores brasileiros vêm se aventurando no Velho Oeste — e trazendo para ele um tempero todo próprio. Muitas dessas obras são publicadas de forma independente, com financiamento coletivo ou em feiras de quadrinhos e cultura pop.
Um bom exemplo é o quadrinista Marcelo D’Salete, premiado internacionalmente, que já declarou interesse em explorar o gênero com uma abordagem crítica e brasileira. Outro nome em destaque é Guilherme Petreca, autor de trabalhos marcantes como Ye, que trazem uma estética diferenciada e um ritmo narrativo que foge do convencional.
Quadrinhos como Cangaço Overdrive, de Zé Wellington e Daniel Queiroz, mostram como é possível misturar a estética do faroeste com o contexto brasileiro — neste caso, com um toque cyberpunk. Ainda que não seja faroeste puro, é parte de um movimento que revisita arquétipos do gênero e os adapta para novas realidades.
O fascínio do faroeste
Mas o que explica essa paixão renovada pelos quadrinhos de faroeste? Para muitos leitores, o gênero oferece uma combinação irresistível de ação, dilemas morais e personagens icônicos. Há algo de atemporal no cenário do Velho Oeste: a luta entre o bem e o mal, a busca por justiça em terras sem lei, os duelos que decidem destinos.
Além disso, os quadrinhos permitem uma liberdade visual que ajuda a reforçar a ambientação e o drama das histórias. O uso de sombras, os enquadramentos cinematográficos e o ritmo cadenciado das narrativas se encaixam perfeitamente com os elementos do western.
As histórias também oferecem um espaço para explorar temas atuais sob o disfarce de uma época passada: preconceito, desigualdade, ganância, corrupção — tudo isso cabe num bom quadrinho de faroeste, seja ele ambientado no Arizona ou no sertão nordestino.
O papel das redes sociais e da internet
Outro fator que vem impulsionando o crescimento dos quadrinhos de faroeste no Brasil é a atuação de criadores de conteúdo nas redes sociais. Canais no YouTube, perfis no Instagram e páginas no Facebook dedicadas ao universo western ajudam a manter a chama acesa e apresentar o gênero a novos públicos.
Além disso, plataformas como o Catarse e o Apoia.se permitem que projetos independentes ganhem vida mesmo sem o apoio de grandes editoras. Isso dá voz a novos artistas e permite uma diversidade de estilos e narrativas que enriquece ainda mais o cenário.
O futuro do western em quadrinhos
Com tanta coisa acontecendo, o faroeste nos quadrinhos brasileiros parece ter reencontrado seu espaço. E não apenas como uma nostalgia de tempos passados, mas como uma linguagem viva, adaptável e cheia de possibilidades. Os leitores estão cada vez mais abertos a novas propostas, e os autores estão respondendo com criatividade e ousadia.
Se você ainda não deu uma chance aos quadrinhos de faroeste, talvez este seja o momento. Seja pelas aventuras de Tex, pelas ousadias dos artistas independentes ou pelas releituras modernas do gênero, há um mundo — ou melhor, um deserto inteiro — a ser explorado nas páginas dessas histórias.
E quem sabe, ao virar a próxima página, você não se pegue torcendo por um pistoleiro de chapéu surrado em busca de redenção, em meio a tiros, cavalos e poeira.
2 comentários sobre “Quadrinhos de faroeste crescem no Brasil e atraem leitores apaixonados pelo gênero”
parabéns pela matéria…Show!
Boa tarde Miro!! Agradeço o seu feedback. Siga nossas redes ou assinei nossa newsletter para se manter atualizado. Abraços!!