O governo dos EUA bloqueia o acesso canadense à biblioteca localizada na fronteira entre os países

Em breve, os canadenses precisarão de um passaporte para acessar esta biblioteca pública.

A Haskell Free Library está situada na fronteira entre os EUA e o Canadá. Dois terços da biblioteca estão na província canadense de Quebec, enquanto a seção infantil e a entrada principal ficam no estado americano de Vermont.

“Nosso acesso pelos Estados Unidos foi fechado. Ainda não está fechado definitivamente, mas apenas funcionários podem utilizá-lo. A partir de 1º de outubro, será completamente bloqueado para todos”, explica Sylvie Boudreau, presidente do Conselho de Administração.

O governo Trump restringiu o acesso à biblioteca, alegando que traficantes de drogas e contrabandistas usavam o prédio, além de impor tarifas ao Canadá e ameaçar anexar o país vizinho.”Na minha opinião, isso é exagero. Não acredito que muitos criminosos ou terroristas atravessem a biblioteca para entrar nos EUA”, comenta o aposentado Andy Lemieux.

“Os frequentadores e as comunidades ficaram indignados e frustrados. Americanos se desculpavam, dizendo: ‘Nós não somos assim. Não queremos isso’. As pessoas se sentiram traídas, porque a biblioteca simboliza amizade e união”, relata Sylvie Boudreau.

Uma antiga saída de emergência no lado canadense agora será a nova entrada para visitantes do Canadá.

“Todos estão tentando nos dividir no momento. É isso que está acontecendo agora”, acrescenta Sylvie Boudreau.

A escritora canadense Louise Penny, autora de bestsellers e frequentadora da biblioteca, comparou a situação a uma distopia.

“A primeira coisa que um déspota ou tirano faz é mirar bibliotecas, escritores e livros. Eles atacam quem pode ler, pensar e se tornar uma voz dissidente”, declarou Louise Penny ao The Guardian.

Sobre a Biblioteca Haskell

Há 120 anos, a Biblioteca Haskell se divide entre as cidades de Derby Line, em Vermont, nos EUA, e Stanstead, em Quebec, no Canadá. A entrada fica no lado americano, enquanto as estantes de livros estão posicionadas no lado canadense – como previsto por Martha Hoskel e o filho, que em 1904 montaram a biblioteca (que também é uma casa de ópera) com o propósito de ignorar divisões.

Nos cômodos do imóvel, uma faixa preta marca no chão a fronteira livre onde moradores das duas cidades sempre puderam compartilhar livros, abraços e longas conversas. Aos canadenses, bastava dar a volta na calçada para entrar no lado americano sem passaporte ou pedido de autorização. Com Donald Trump na presidência, isso não tem sido mais possível.

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